Em 20 de Abril de 2005

(Pode aumentar a dimensão das fotos clicando no seu canto inferior direito)


O Prof. Fernando Catarino foi o nosso guia. Ex-director, já jubilado, do Jardim Botânico de Lisboa, foi inexcedível em entusiasmo, quer na explicação do interior das flores e no mecanismo de sobrevivência de certas plantas, quer nas histórias que nos contou sobre os locais que vimos.


Aqui está a grande diferença. Enquanto alguns políticos, num vácuo de ideias, dizem "vou andar por aí...", um homem de ciência vive num mundo pleno de objectivos e diz claramente "Venham por aqui!"
Iniciámos a visita no pequeno Largo Júlio Castilho, onde se vê uma velha bica com esta curiosa estátua. Imaginamos os cavalos a beber naquele reservatório e as aguadeiras a poisar com esforço os seus enormes cântaros de barro.
Deste lado da estátua, pode ver-se "C. M. L. 1909"
Câmara de Olivais, diz no outro lado da estátua, ou seja, em tempos, este local pertencia à Câmara de Olivais

A casa onde faleceu em 1919 Júlio Castilho, escritor erudito e olisipógrafo.
O Largo Júlio Castilho, onde se situa a entrada do Parque Monteiro-Mor
A casa onde faleceu Júlio de Castilho, visconde de Castilho, é património municipal, mas está muito degradada.
Algumas reconstruções modernas ao fundo, mas aqui um pavimento antigo que resiste.
Grossas pedras pretas, basálticas resistem ao desgaste do tempo.
Na barulhenta Av. do Padre Cruz ainda são visíveis algumas casas antigas a par com as actuais grandes construções.
Junho de 1886, a data desta casa, o nº 1 da então Calçada de Carriche, hoje Av. Padre Cruz.
Uma casa a merecer recuperação


O nome de Monteiro-Mor, consagrado da toponímia local desde meados do século XVIII, foi atribuído a este Parque, por confinar com o pequeno Palácio onde habitaram dois Monteiros-Mores na segunda metade deste século; referimo-nos a D. Henrique de Noronha (M.M. 1717, filho de D. António de Noronha, 2o marquês de Angeja), que pelo seu casamento com D. Maria Josefa de Melo (filha do Monteiro-Mor Francisco de Melo) herdou este cargo, e D. Fernão Teles da Silva (M.M. 1728) segundo marido de D. Josefa (terceiro filho do conde de Tarouca e Monteiro-Mor do Reino), que adquiriu o Palácio a D. António de Beja Noronha e Almeida, fidalgo da Casa de Sua Majestade, que o adaptou.


Confinante com a casa do Nobre, constituiu-se por compras sucessivas a vários proprietários, uma grande quinta, de que viria a ser herdeiro e senhor, D. Pedro José de Noronha de Albuquerque Moniz e Sousa (1716-1788), 3o marquês de Angeja, 4o conde de Vila Verde, gentil homem da Câmara de D. Maria I, e Primeiro Ministro, que sucedeu a Marquês de Pombal.


Por interessante coincidência, os dois irmãos "Angeja" – D. Henrique e D. Pedro – dedicaram-se à Ciência Botânica. A este último mereceu-lhe o jardim botânico particulares cuidados, tendo-se iniciado na década de 1750 sob orientação do botânico italiano Domenico Vandelli (1735-1816), que foi professor de ciências naturais e química, e ainda director do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra e do Jardim Botânico da Ajuda.


Todo este rico complexo permaneceu até aos nossos dias na posse da Família Palmela. A sua penúltima proprietária foi D. Maria José Holstein Beck Campilho.
Em 1970, um enorme incêndio destrói quase todo o Palácio, deixando de pé apenas as suas paredes exteriores.
Foi o Decreto-Lei no 558 de 27 de Setembro de 1975, que autorizou a Direcção-Geral da Fazenda Pública a adquirir a chamada "Quinta do Monteiro-Mor", situada no Lumiar em Lisboa, e, por sua vez, também permitiu a instalação condigna do então recente Museu Nacional do Trajo, no grande Palácio aí existente.


A "Quinta" encontra-se reservada como zona verde no Plano Director da Cidade, o que a liberta de qualquer outra utilização. Após a aquisição pelo Estado, impunha-se, desde logo, tratar da recuperação do que restava do Palácio do Monteiro-Mor.
Em 1978, Vítor Pavão dos Santos propõe a criação de um Museu do Teatro naquele Palácio, o que acaba por ser aceite.
Conseguiu-se, com raro equilíbrio, conciliar um exterior do século XVIII, que respeitou escrupulosamente, com um interior de museu moderno, com duas muito amplas salas de exposição e, num aproveitamento criterioso de espaço, encontrou lugar para gabinetes, reservas e um excelente auditório, além de todos os demais serviços.
Há 2 coches na loja do museu
Na loja do Museu
O lindíssimo tecto da loja do Museu, que era a cavalariça do palácio
Fósseis encontrados nas escavações do Parque e que provam que o mar chegou aqui.

A propósito: fiquei a saber que o nome de Ameixoeira (uma localidade do Lumiar, aqui perto) deriva de ameijoa, ou seja, apanhavam-se ameijoas no Lumiar!



Consta que em 1793 o jardim botânico era já citado como sendo um dos três mais belos jardins de Lisboa.
O Palácio e o Jardim foram transmitidos na Casa Angeja até à descendente D. Mariana de Castelo Branco, que os vendeu em 1840 ao 1o marquês do Faial e 2o duque de Palmela, D. Domingos de Sousa Holstein Beck (1818-1864).
A requintada cultura Palmela contribuiu para que o Palácio se transformasse num verdadeiro museu de obras de arte, e o jardim ornamentado com espécies exóticas raras, vindas especialmente de Inglaterra, fosse ainda mais enriquecido no seu já valioso inventário botânico.
Os mais categorizados técnicos de então foram escolhidos para os trabalhos de melhoramento do Parque (1840), sendo o botânico belga Rosenfelder, o botânico austríaco Friedrich Weldwitsh, e os jardineiros Jacob Weist e Otto os mais directos responsáveis. Foi finalmente o "jardineiro" João Batista Possidónio, orgulhoso de ter sido discípulo de Jacob Weist, quem, durante mais de 25 anos (1912) dirigiu o Parque com enorme dedicação e incontestável competência.


O duque de Palmela confiou a direcção do jardim a Friedrich Weldwitsh, depois de este ter deixado a direcção do Jardim Botânico da Escola Politécnica, hoje Faculdade de Ciências. Para além do jardim botânico, a propriedade rústica totalmente murada é ainda constituída por terras de semeadura que ocupam metade da sua área total.
Uma vasta zona verde foi delineada em jardins à inglesa, com pequenos recantos românticos ao gosto da época, cascatas cantantes, lagos de recorte natural, fontes escondidas e tanques povoados de rãs e peixes. Aqui se encontraram o poeta Almeida Garrett com a escritora inglesa Mrs. Norton, filha de Thomas Sheridan, autor de "English Laws for Women in the nineteenth century"; o poeta evocou este encontro na sua poesia "No Lumiar" na sua célebre obra Folhas Caídas.
Um pequeno refúgio verde no meio do bulício das grandes construções de cimento.
O restaurante do parque
Uma sequoia sempre verde.


Um tronco retorcido e harmonioso.
Uma torneira muito antiga. A água que por ela corria era água recolhida das chuvas, não da EPAL.






Inaugurado em 1995 para albergar peças assinadas por artistas contemporâneos de origem nacional e internacional, o Jardim das Esculturas foi a forma que o Museu Nacional do Traje encontrou para conseguir um enriquecimento cultural do património paisagístico que é hoje o Parque do Monteiro-Mor.
O Prof. Fernando Catarino deixa-nos a todos fascinados com as suas fantásticas histórias.


Provando o nectar duma flor

O artista japonês, Niizuma, evoca, através do seu "Castle of the Eye", a verticalidade conquistada pelo Homo Erectus. É com esta obra que Niizuma pretende também transmitir, de forma abstracta, a sua ascendência secular de Samurai.


Raízes curiosas
Uma árvore com inúmeras raízes aéreas
Uma estrelícia gigantesca. Quem diria que é uma simples erva! Usa artimanhas incríveis para conseguir aquela altura sem ter o suporte dum tronco de madeira.





Aqui há uma enorme gaiola, que hoje tem sobretudo pombos e patos, mas já teve aves mais exóticas.

Outras visitas